A viola caipira fez história no Brasil.
Hoje existe uma infinidade de
violeiros espalhados por esse Brasil afora, em sua maioria discípulos
do saudoso Tião Carreiro.
Conheci a viola ainda criança, lá no
Paraná. Já gostava do som, pois fui criado ouvindo moda de viola,
influenciado pelo meu pai.
Quando digo moda de viola, é moda de viola
mesmo, não é batidão, rancheira nem rasqueados, é moda de viola!
Afirmo isso pois muitas pessoas com pouco entendimento não podem ouvir
uma canção soar um pouco mais caipira que já chamam de moda de
viola, mas não é. Tem gente que chama até violão de viola!
Moda de
viola que se preze é a viola ponteando, e as vozes fazendo dueto.
Mas,
enfim, deixando minha indignações de lado voltemos ao assunto. Em toda
minha infância sempre que ouvia alguém tocando um instrumento ao vivo
eu me interessava. Se fosse viola então eu me interessava mais ainda.
Já havia tido alguns contatos superficiais com esse instrumento, já que
alguns violeiros freqüentaram nossa casa, quando moramos em Minas e no
Tocantins, como Dino Franco por exemplo. Mas o “inside” mesmo ocorreu
anos depois, no Paraná. Em certa ocasião, em uma festa na fazenda do
meu tio Sergio, alguns cantadores se reuniram, dentre eles uma tal Tião
Rosa (achei esse nome bonito e nunca mais esqueci), e um violeiro
chamado Nor.
O Nor era um cara muito simples, retraído, falava pouco e
baixo, chegou na festa e ficou na dele sem se manifestar. Entre uma
cantoria e outra os cantadores se revezavam nos instrumento,
quando, de repente, a viola caipira, uma Del Vecchio antiga e com rabicho, cai
na mão desse homem retraído de pouca fala! Meu Deus, que é isso! Realmente um homem com aquele talento não precisava falar muita coisa.
Que som maravilhoso, que execução perfeita!
Naquela noite fui embora
delirando, sonhando e tendo a convicção de que queria ser violeiro.
Passaram-se os anos, muita água passou debaixo da ponte, e de repente
me vejo em Belo Horizonte, cantando com meu irmão em alguns churrascos
nas casas de amigos. Me lembro como se fosse hoje do primeiro churrasco
que cantamos.
Dali a pouco começaram a surgir as oportunidades nos
bares de BH. E nós, pra agradarmos o publico, começamos a usar menos a
violinha e partir pra uma música sertaneja mais
moderna, e foi aí que o violão entrou em minha vida.
Por necessidade me
apliquei mais ao violão. Mas a violinha, que me fez chorar lá no Paraná,
continua no meu coração. E tenho certeza que qualquer hora, quando as
coisas se acalmarem, e eu conseguir sair um pouco dessa maratona da
vida na qual eu me enfiei, eu vou conseguir voltar a pontear só a viola,
acompanhado pelo meu irmão no violão e cantar as modas que gostamos.
Não atingiremos um publico tão grande, mas estaremos felizes por
saber que, a partir de então, realmente estaremos fazendo algo de valor
pela música caipira.
“Caipira, semo porque semo, e também porque queremo!”
César Menotti