Do Diário do Grande ABC
Se você guarda a imagem dos avós cantarolando modas sertanejas e relembrando como era a vida no interior quando eram crianças, pode rever seus conceitos. Agora é provável que o colega de classe também curta o ritmo, seja integrante de comunidades no Orkut de duplas sertanejas, carregue essas músicas no MP3 e até, quem sabe, faça parte de comitivas.
Apesar de o ritmo ter sido criado no Brasil em 1929, no início desta década surgiu no interior de Minas Gerais e de Mato Grosso um sertanejo reinventado, batizado de universitário. Duplas como César Menotti e Fabiano, João Bosco e Vinícius e Edson e Hudson misturaram o ritmo com axé e funk e aceleraram um pouco a batida da música. O resultado foi apresentado nas faculdades onde estudavam. "É contagiante e isso pode ser um diferencial. Cantamos muitas músicas pra cima e também têm as românticas para as meninas", diz Edson, da dupla Edson e Hudson.
Estratégia de marketing ou não, o som bombou, claro! O sertanejo universitário se espalhou pelo Brasil e conquistou tanto universitários, quanto adolescentes, que adoram uma novidade. Várias duplas com mais ou menos o mesmo perfil - jovens do interior - aproveitaram a onda.
"Na verdade, ninguém sabe definir o que é sertanejo universitário. Acho que fazemos parte de um time que está tentando acrescentar novas intervenções na música sertaneja", afirma Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba, que têm 24 e 27 anos.
Na opinião de Hugo Pena, 28, parceiro de Gabriel, 26, o aparecimento do ritmo é uma oportunidade para conquistar o animado e agitado público juvenil. "As músicas e melodias atraem os mais novos. É um trabalho moderno, mas que respeita a música sertaneja antiga."
Na opinião de Maria Cecília, que faz par com Rodolfo, ambos 24 anos, não é legal rotular, mas ela admite que a nova onda abriu a porta para muitas duplas. "É uma nova roupagem que está dando mais do que certo."
COMITIVAS REÚNEM FÃS PARA BALADAS CAIPIRAS
O trio de São Bernardo, Fernando Rodrigues, 15 anos, Carla Simão, 16, e Patrícia Rodrigues, 17, curte sertanejo há muito mais tempo do que os amigos da idade deles. Desde crianças, fazem parte da Comitiva Tô Doidão (em homenagem à música de Rionegro e Solimões), da qual seus pais já participavam. As comitivas sertanejas reúnem grupos de amigos que adoram o ritmo. Eles viajam juntos para participar de rodeios e festas e ainda têm o compromisso de organizar eventos beneficentes.
"O sertanejo sempre fez parte da minha vida. Adoro o ritmo e o clima dos shows. É muito tranquilo, não tem violência. Sinto-me em casa", afirma Carla, que também curte Cláudia Leitte, mas jura que nunca mais vai a uma micareta. "É muita gente doida junto, não combina comigo."
Fernando é craque em tocar berrante e, inclusive, já abriu vários rodeios com seu som. Mas, se no mundo sertanejo o garoto é ovacionado, fora dele rola um pouco de preconceito. "Tenho amigos que acham o sertanejo e nosso estilo de se vestir bregas. As pessoas julgam sem saber direito o que estão falando", diz Fernando. Para ele, muitos até gostam, mas têm vergonha de assumir. "Com o sertanejo universitário, isso está começando a mudar. Espero que todos passem a nos respeitar mais." O garoto é fã de Victor e Leo e também curte outros ritmos como samba e rock.